Meu ser tão idiota

Nasceu um dia, assim meio do nada, o meu ser tão idiota. claramente entregue à filosofia banal. descrevê-lo seria um erro. sê-lo seria um erro. por fim consumado. ser certo já não mais importa. era meu. mas não o era pequeno. incompativelmente grande. miseravelmente aparente. ah! se o mundo não fosse redondo. lhe faria caixão de mármore e o jogaria no término da planície mundial. platônico, diriam todos. idiota, afirmo eu. e este ser de tão repentino que veio mais despreparado cresceu. braços e pernas alongados, movimentos incertos, estilhaços ao chão. pobre inútil incompetente. talvez sonhasse em só ser, sem o ser, apenar ser. mas pariu-se idiotamente irresponsável. e sem muita complexidade e permissão construiu morada. criatura vil e permanente, choro eu. canta as baboseiras e se disfarça de lirismo. enganou mesmo o poeta, vulnerável disfarçado. não fez ensaios, já entrou em plena peça. volumoso descrente, irremediável errôneo. na valsa perdeu o ritmo, com as notas fugiu seu soul. fantasiou, fantasiou-se. não fez as mímicas, desculpas, mas não rimava. e era meu. subitamente meu. severamente meu. indefinidamente meu. entre arranjado com o ínfimo vermelho pulsador. não estranhamente meu. meu tão ser idiota.